A praça vertia crianças, no momento da chegada. Várias apresentações de escolas, poesias, canções e coreografias, recheavam a tarde de atrações da Feira. Porém, por um problema de organização do de horários do evento, fez com que grande parte desse público curioso voltasse pra sala de aula, com suas turmas e professores, após o passeio à Feira.
Lá estavam algumas crianças e amigos com muita paciência com o atraso do evento, que foi de mais de uma hora. O pessoal da cobertura colaborativa do Macondo Coletivo tão indignado quanto as palhaças, Julieta e Pandoíra que estavam já no palco prontas pra entrar em cena, quando o mesmo foi tomado por professores e crianças para mais uma apresentação que ao que parecia, não constava na programação.
Depois de um desperdício de energia com objetos cênicos que foram quebrados durante esse sobe e desce de crianças no palco, um abraço forte entre as atrizes Cláudia Schulz e Vanessa Giovanella, que já estavam em seus estados clownescos invocavam “merda”, pra que tudo saísse da melhor maneira possível.
Respiração profunda... trilha de entrada... bolhas de sabão... começa o espetáculo!
Entre os poucos pares de olhos que ainda estavam presentes, o diálogo fluía entre clowns e público, principalmente os de menos idade e os de mais vontade de acreditar no que parace tão óbvio como um truque onde um pequeno lenço some da mão do mágico e reaparece debaixo do chapéu de sua partner.
Dá-se o jogo... os narizes, mais vermelhos que nunca levando às gags, a energia que ia se renovando a cada contato de olho, entre as palhaças e entre os poucos mas atentos espectadores da praça acinzentada de outono.
Nessa apresentação peculiar, ficou mais uma vez o registro de que teatro não precisa de grandes platéias numerosas e cheias para acontecer, mas precisa de gente cheia de vontade de ver, cheia de abertura e sensibilidade para se permitir o jogo, para perceber e lançar de volta energia renovada... diálogo entre olhares.
Na volta, as atrizes e suas bugigangas, cruzando novamente o espaço... nas malas, além dos objetos cênicos, carregavam também um punhado de histórias novas para o “diário do Espoleta”, mais experiência e muitas risadas, após o pânico de estar-se em cena e não poder fazê-la, tendo o palco invadido no momento de entrada... e haja jogo para o ator voltar e refazer sua entrada... criar cenas de apoio no momento da confusão alheia... e haja jogo, depois de ver tanta gente indo embora no meio da apresentação que invadiu o cenário do espetáculo em função do problema com os horários... e haja jogo pra continuar no palco, quando momentos como esse fazem com que os atores se sintam desrespeitados ao extremo.
E pra todos nós escolhidos por esse teatro que nos move todo o dia, como teatreiros ou como público, que haja jogo, sempre! Para que a vida fique mais colorida e as bolhas de sabão possam dançar ao vento, levando no seu percurso algum olhar atento à sua transparência.
Fotos: Talita Tibola (obrigada baby!)